Erudito com Axé

A primeira edição do Prêmio de Música Contemporânea da Bahia presta uma justa homenagem ao Axé Music, no ano que este completa 30 anos. Estilo musical nascido na Bahia na década de 1980, foi criado pelos músicos baianos Alfredo Moura e Carlinhos Brown e projetado nacional e internacionalmente pelo cantor e compositor baiano Luiz Caldas.
 
Com a proposta “Erudito com Axé”, temos como intuito o estímulo à construção de diálogos entre a música erudita produzida na Bahia e elementos da cultura local. Esta prática há muito tempo tornou-se um dos traços identificadores da música de concerto produzida no estado, visto em obras de compositores baianos ou aqui radicados, renomados nacional e internacionalmente, como Ernest Widmer, Lindembergue Cardoso, Fernando Cerqueira, Paulo Costa Lima, Wellington Gomes, dentre muitos outros.
 
Ao passo que valorizamos nossa cultura, caminhamos também em direção ao estreitamento das relações entre o público local e um tipo de música e de produção musical que, apesar de sua força no que diz respeito aos circuitos de concertos e concursos de música realizados Brasil afora, atualmente tem seus potenciais de alcance restringidos. A falta de incentivo e oportunidade dada a jovens compositores, carência de meios de divulgação e difusão especializados, pouco espaço dado a este tipo de música nos programas de concerto das orquestras e grupos de câmara locais, falta de intérpretes especializados em música contemporânea, e uma concepção errônea com relação à estética musical que é empregada nas obras atualmente produzidas são algumas das razões que mantêm o público distante da música contemporânea.
 
Ao “apimentar” ou “endendezar” a música contemporânea, unimos o útil ao agradável. Buscamos tornar mais íntima esta relação entre público e a “obra de hoje” por meio do uso do que é, involuntariamente, familiar a todo e qualquer ouvinte baiano, mais do que acostumado com o Axé e toda a sua pluralidade. Ao atraí-lo pelo que já é seu, apresentamos outra possibilidade de apropriamento do que ainda não lhe é seu somente por pouco saber que existe. Mostramos ao público as possibilidades de resultado do uso de uma multiplicidade de ferramentas ou mecanismos de criação musical presentes no imaginário do compositor atual, que hoje tem acesso a uma variedade de informações e que experiencia por sua vez uma variedade de situações.
 
Ao “eruditizar” o Axé, ressaltamos ainda mais a riqueza deste gênero musical da terra, com toda a sua complexidade rítmica e tímbrica, através do qual o compositor poderá se utilizar livremente de elementos diversos como ponto de partida para suas elucubrações sonoras, expandindo ainda mais o seu potencial.